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Essa história aconteceu no 17º RC em Amambai - MS lá pelo início dos anos 70, em pleno regime militar.
No exército a hierarquia sempre foi a base da disciplina castrense, presente em todos os lugares e situações. Tudo é absolutamente dividido de forma a separar os militares de acordo com os cargos e postos que cada individuo ocupa na pirâmide de comando. Ao marchar, o mais graduado segue na frente e o soldado raso marca o passo nas fileiras posteriores. E dentro das categorias iguais, a altura do indivíduo determina quem vai na frente de quem.
A hierarquia se vislumbra de forma inequívoca também nos acampamentos militares. No tamanho das barracas se apercebe a importância do posto e o tipo de divisa. As barracas dos soldados são minúsculas tendas, pequenas e insuficientes para não permitir que alguém fique em pé no seu interior; medem aproximadamente dois metros quadrados e com menos de um na altura, permitindo que no seu interior o soldado permaneça tão somente, no máximo, ajoelhado. Ainda, pior, é a divisão obrigatória, de tão pequeno espaço, com um colegas de farda. A cama se resume em uma manta verde oliva que não oferece qualquer conforto.
A barraca destinada aos oficiais, pela importância do posto, é mais benevolente com os seus ocupantes, tem tamanho suficiente para abrigar pelo menos dez militares, todos em pé e confortavelmente instalados com camas de campanha, mesa, pequenos armários e outros itens de conforto inexistentes nos pequenos casulos do soldado raso.
No quartel do 17º RC em Amambai, no momento das refeições, ali na caserna ou em acampamento, a separação hierárquica não poderia ser diferente. Para os soldados o local de alimentação é o local denominado "rancho", espécie de grande restaurante, tipo self service, onde todos , em filas rigorosa e disciplinarmente organizadas servem-se em grandes bandeijões feito de alumínio, cada tipo de comida é militarmente disposta em pequenas divisões pré-determinada. Todos os alimentos eram tirados de enormes panelões, o arroz, o macarrão, feijão e a carne, como em qualquer restaurante do tipo de auto serviço pode ser servido à vontade e a carne, ao contrário, era controlada por alguém do rancho para se evitar os excessos. servia-se como sobremesa suco, pedaço de pão e uma fruta da época.
Os alimentos eram preparados pelos próprios soldados que foram selecionados no processo de incorporação ao serviço militar. A chefia do rancho ficava a cargo de um sargento que tinha como auxiliar um cabo e alguns soldados que faziam os serviços de cozinheiros, auxiliares de cozinha e todas as atividades inerentes ao cargo.
Os cassinos eram os locais de alimentação dos sargentos e dos oficiais, de menor tamanho eram mais privilegiados nas instalações e nos serviços e o preparo dos alimentos era separado dos soldados e de melhor qualidade e quantidade.
Enquanto os recrutas se serviam os sargentos e oficiais, nos seus cassinos, eram servidos por soldados que vestindo jaleco branco eram transformados em garçons e chamados de cassineiros.
Era tolerado que o sargento ou o oficial, vez ou outra, levasse um familiar para almoçar no seu cassino em sua companhia, e não era raro, no almoço, sempre haver um filho ou esposa de alguém que fazia companhia ao pai ou marido, sargento ou oficial.
Pedro Abelardo Nunes, o Nunes, havia incorporado no início dos anos setenta e há seis meses fora designado para ser o garçon no cassino dos oficiais, depois de insistir várias vezes, com alguns superiores, a sua indicação para aquela função pois sabia que naquele lugar o trabalho era leve e comia-se bem, saboreava-se as mesmas comidas servidas aos oficiais.
A mulher de um certo oficial, que não era muito apegada às tarefas culinárias, quase todos os dias almoçava no cassino dos oficiais em companhia do marido. No começo era educada com os soldados cassineiros, mas com o passar do tempo foi se tornando exigente no seu atendimento. Reclamava constantemente dos temperos, da limpeza de pratos, talheres e, até mesmo, certo dia, da disposição das cadeiras e mesas no local. Por várias vezes durante a refeição exigia a presença do sargento chefe para proceder reclamações fúteis, ora do atendimento dos cassineiros, ora de algum condimento, não havia dia sem reclamação.
Nunes era o cassineiro preferido da dona Dorinha como era chamada a esposa do oficial, por todos os serviçais.
- Nunes, isto está sem sem sal!!! bradava a madame - Pois não senhora, já vou providenciar mais sal, respondia Nunes de forma paciente.
- Nunes esta faca não está cortando!!! - Pois não senhora, já vou providenciar outra.
E assim era todo dia. Aquilo começou a aborrecer a todos que já não suportavam mais as reclamações da dona Dorinha.
Certo dia, no almoço, dona Dorinha, quase descontrolada, tendo um faniquito, gritou:
- Nuuuuuunes, a água que você me serviu está horrível, está quente, nem os cavalos tomam esta porcaria, leve isto daqui, traga-me água gelada, estou morrendo de sede.
- Pois não senhora, já vou providenciar outra, respondeu o coitado do casineiro. pegou a jarra levando-a para a cozinha.
- Que mulher nojenta, me dá vontade de esganar esta maluca. disse o soldado casineiro, entrando na cozinha e ouvindo as chacotas dos colegas.
- Nunes vem cá, Nunes me dá isto, Nunes me dá aquilo, diziam imitando a voz estridente da madame.
Nunes foi até uma grande geladeira, apanhou uma enorme vasilha com água gelada que colocou na jarra da madame. Estava se dirigindo ao salão do refeitório quando, diante de todos que ali estavam, inclusive o sargento chefe, parou e voltou.
- O que você está fazendo? perguntou um colega.
- Aquela vaca quer água gostosa, pois ela vai ter! dizendo isto abriu os botões da braguilha das calças, com a mão esquerda segurava a jarra e com a direita, num pequeno esforço, tirou seu enorme pênis para fora e colocou-o dentro da jarra com a água da madame, mexeu-o em movimentos circulares dando-lhe três ou quatro voltas no que fazia pequeno redemoinho.
Todos, atônitos, sem acreditar no que os olhos viam, observavam estáticos.
- Quer água boa sua cadela! dizia enquanto balançava seu enorme instrumento dentro da água da madame.
Guardou o enorme apêndice, fechou os botões e levou á água para o refeitório. chegou até a mesa.
- Sua água senhora. disse servindo a madame com uma farta quantidade, quase enchendo o copo.
A madame sorveu de um grande gole, logo outro, fez um sussurro de prazer e disse:
- Hummm, Que delícia meu filho!!!! Agora sim, água maravilhosa, deliciosa, docinha. Logo Pediu que colocasse mais.
Nos outros dias a madame sempre exigia do paciente e eficiente casineiro que lhe servisse daquela água deliciosa.
Nunes durante mais seis meses continuou servindo no cassino, completou a sua obrigação do serviço militar e voltou para Dourados de onde viera.
A madame foi embora, em companhia do marido transferido. Nunca se esqueceu de como era gostosa as águas de amambai.
[Trecho do livro As Praias do Panduí] - Zeca Berbes