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Nasci no dia 07 de março de 1957 e pelas minhas contas vou completar 52 anos no próximo sábado.
Quando guri pensava a bobagem de que iria morrer com 75 anos porque era o inverso de 57 e que viver esta quantia de anos estava no meu contrato com o divino.
Mais recente pensei melhor naquela idéia de piá e concluí que a bobagem seria morrer com 75 anos e que além da data estar se aproximando, era muito pouco tempo e, diante da possibilidade de que aquele pensamento de guri não fosse bobagem, pedi audiência com o divino para prorrogar aquele prazo de vencimento. Vai que o guri estava certo!
Na ante-sala do poderoso, confesso que fiquei nervoso e apreensivo, pensei em quantos anos mais pediria de lambuja. Não queria ser pretencioso, se por uma lado não pensava em disputar com matusalém, por outro lado, não quero ser um defunto novinho e nem deixar viúva nova. O secretário do poderoso, não pensem que era São Pedro, não sei ao certo que santo era, se é que era santo, tinha uma cara de Ulisses Guimarães, não quis perguntar e fiquei imaginando, tentando me lembrar que santo era parecido com o pai da constituinte de 88.
Nas configurações do Zodiaco sou do signo de peixes e tenho como principal característica ser um eterno sonhador e cheio de contradições. Isto me lembra aquela música do Raul Seixas, metamorfose ambulante que diz assim: "prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo"; "se hoje tenho ódio, amanhã lhe tenho amor".
Se sou sonhador, vivo em sonho e se vivo em sonho não posso acordar pois um choque de realidade me é fatal. Me faz mal a realidade, me incomoda a segunda-feira que é o dia de encará-la.
Voltando à ante-sala do poderoso, fiquei receoso de que ele, alegando ser eu um sonhador, argumentasse, contra o meu pedido, que seria mehor viver dormindo, ou seja... morrer e, por isto, por que passar dos 75 anos.
Como sempre, fiquei desde já pensando na resposta.
Perguntei ao secretário se o chefe estava muito ocupado. sim me disse o Santo Ulisses, o senhor está lá embaixo olhando o estrago que o seu povo causou na cidade de Gaza e está nervoso, talvez demore um pouco por que vai dar um pulinho no Brasil pra conversar com um tal de Roberto Requião que esta pensando bobagens por lá, se achando o deus do estado.
Pensei comigo, o que faço enquanto espero. vou sonhar, pensei.
Enquanto esperava, lembrei que a morte é o maior mistério da humanidade e enquanto eu estou aqui preocupado com o dia do retorno, ou da reencarnação, não sei ao certo se acredito ou não nisto tudo, ele que está lá embaixo fazendo uma vistoria nas suas criaturas e no que elas estão aprontando, sabe exatamente quado será o dia da morte. Zé Rodrix em uma música nos anos 70 perguntava "mas quando será, o dia da minha morte, o dia da minha sorte...".
Alí sentado, tentando não encarar o santo secretário, fiquei imaginando que deve existir uma fórmula secreta, que só o poderoso sabe, qual o dia certo que cada um vai morrer. Me lembrei também de um velho conhecido que dizia assim: Zeca, no dia que a gente nasce, lá em cima tem um livro que registra a data do nascimento e também a da morte.
Meu pai terráqueo sempre dizia que a matemática é a linguagem universal e ela é quem dirige o universo, basta lembrarmos das leis da gravitação universal, formuladas por Isaac Newton, para termos certeza de que ele tem razão. Então quero crer que, se isto é verdade, o segredo da distância entre a vida e a morte pode estar numa simples equação matemática.
Falando em matemática me recordei daquela personagem do filme uma mente brilhante, em que Russel Crowe vive um gênio maluco que vê matemática em tudo, até no voo das pombas. Me lembrei também que, por desgraça do desconhecimento dos números, por simples desconhecimento de seus meandros básicos me ferrei de verde e amarelo, quando em 1972 vim para Curitiba estudar no Colégio Militar.
Comecei a imaginar, ou sonhar talvez, com a descoberta da equação da vida, onde o "x" da questão seria a data certa, com hora e tudo mais, da morte de alguém. Lembrei daquele fator previdenciário, aquele que a previdência social do brasil utiliza para calcular com quantos anos o cidadão pode se aposentar. Me lembro que é uma equação complexa onde as variáveis são a data do nascimento, o início das contibuições ao sistema, a expectativa de vida calculada pelo IBGE e outras que não me recordo, para ao final informar ao pobre coitado que ele vai ter que trabalhar mais dez ou quinze anos para ter o direito à aposentadoria.
A equação da morte teria como variavel, com certeza, a data correta do nascimento de cada um, teria que ter também, para se calcular a hora certa da morte, a hora correta do nascimento e a falta desta informação poderia causar um erro na resposta certa, ou seja o dia certo da morte.
Errar o horário do nascimento na equação da morte, poderia representar um erro de até um ano na data certa da morte, erro para mais ou para menos, dependendo das demais variáveis.
Para se calcular a data da morte a resposta da equação seria uma incógnita
X.
A equação poderia começar assim: X = logarítimo da data do nascimento (ano e mês) elevado à "n" (onde n=hora do nascimento)... mais ou menos assim? X = log N¹² - para quem nasceu as 12 horas.
Fiquei a pensar nas demais váriaveis da equação. Equação da vida ou da morte? vou pensar.
Talvez uma das variáveis pudesse ser as coisas que aprontamos quando guri, para quem fosse viver mais do que vinte ou trinta anos, o que é o meu caso. Me lembrei de certa vez, na chácara da vó Policarpa quando encontrei algumas esferas de rolamento, esferinhas de aço, esquentei-as até ficarem bem vermelhinhas, pareciam milhos que joguei pela janela da cozinha onde muitas galinhas ciscavam o quintal. Pobre da galinha que também pensou que fosse um milho e sugou aquele chumbinho vermelho que mal entrou em seu bico, furou o seu papo e caiu no chão. ainda bem que não estava mais vermelho parecendo milho. Outras galinhas não cometeram o mesmo erro mortal.
Se esta variável fosse utilizada como divisor, certamente eu não passaria dos 75 anos. O que deve pensar o divino sobre isto? Confesso que fiquei preocupado com a idéia, até por que muitos outros animais, gatos, cachorros e galinhas vieram a sofrer com as minhas artes.
Será que arte contra avós pesa na conta? me lembrei de certa vez que quase matei a vó Isaura quando passava alguns dias em sua casa em Ponta Porã, quando peguei um de seus cigarros, retirei todo o fumo e enchi o tubinho com cabeças de fósforo bem raspadinhas e moídas, pólvora pura, tampei com um pouco de fumo e coloquei-o de volta na carteira junto com os outros cigarros. Alguns minutos depois a vózinha foi fumar. só me lebro de sua carinha toda chamuscada e preta com a fumaça. Coisa de guri, poderia ter matado a velhinha.
Pobre de mim, acho que não vou passar dos 75.